A neuropediatra, após alguns questionamentos e ver o relatório da creche e olhar muito superficialmente para meu filho, me olhou nos olhos e disse: Mãe, É AUTISMO, Boa Sorte!
Dia 16/03/2016 era a data que eu esperava ser o fim de um pesadelo, a turbulência que eu estava passando teria um nome e eu teria meu menino de volta, como sempre sonhei e planejei: uma criança saudável e “normal”.
Era, não foi…
Escolhi dar o “start” nesse Blog por essa data, pois é onde tudo realmente se iniciou, uma nova mãe, um novo filho.
Eu aguardava, cheia de esperança, ao ir a uma instituição para uma avaliação multidisciplinar do meu menino, que seria descartado o diagnóstico de Autismo.
Tudo havia iniciado no ano anterior, como uma solicitação médica para que a creche avaliasse a interação social do Emanuel, na época com 3 anos e poucos meses.
Num primeiro momento, pensei ser apenas uma observação sem muita importância, passei a informação adiante e até então, tudo estava bem pois sempre que meu esposo ou meus pais iam buscar ele na creche, tudo estava “ok”, tudo estava “normal” segundo as educadoras da época.
Até que a pedagoga me chamou um dia no portão da instituição e me explicou que a partir da solicitação médica ela havia realizado uma análise comportamental do Emanuel, comparando ele com as crianças da mesma idade que conviviam com ele, as diferenças eram gritantes.
Foi nesse dia que pela primeira vez ouvi a palavra Asperger, um susto grande, ao chegar ao trabalho e pesquisar o que era, um tipo de autismo , olhei as principais característica e “enxerguei” meu filho em muitas delas: dificuldade na interação social, dificuldade na comunicação verbal, comportamentos repetitivos, dificuldade em aceitar mudanças na rotina, entre outros.
Tudo começou a fazer sentido, ao mesmo tempo em que o Sol iluminava minha cabeça o chão se abria aos meus pés…naquele dia iniciamos o processo de investigação.
Busca pelo diagnóstico
A avaliação e diagnóstico de uma criança dentro do TEA (Transtorno do Espectro Autista), na maioria das vezes são demorados: muitas consultas, muita confusão de sentimento, incertezas, dificuldade em perceber as diversas características que envolvem o autismo, necessidade de exames, necessidade de retornos ou busca de outros profissionais.
Até a data em questão, 16/03/2016, já havia passado novamente pelo pediatra do Emanuel, dois neuropediatras, havia começado a psicoterapia e a terapia com a fonoaudióloga. Mas ainda havia dúvidas dentro de mim e em uma conversa com a psicóloga que já estava atendendo o Emanuel, ela havia partilhado que também tinha dúvidas sobre o diagnóstico e me recomendou ir ao lugar especializado para uma avaliação multidisciplinar.
Achei o lugar, marquei a data e fui cheia de esperança, as avaliações foram em diversas áreas, na época o Emanuel tinha 4 anos e 3 meses, passamos por Fonoaudióloga, Pedagoga, Psicóloga, Fisioterapeuta, Oftalmologista, Assistente Social e Neuropediatra.
Em cada sala era resgatado o passado, desde a gestação, os tempos dos primeiros marcos de desenvolvimento (erguer a cabeça, virar de bruços, engatinhar, sentar, andar, primeiras sílabas) entre outros fatos que eu nem lembrava com tantos detalhes e a cada sala eu percebia com os questionamentos e orientações que realmente havia algo de muito diferente no meu filho, mas confesso, que não estava preparada para a frase final, a que fechou o processo avaliativo e daria a “impressão diagnóstica”.
A neuropediatra, após alguns questionamentos e ver o relatório da creche e olhar muito superficialmente para meu filho, me olhou nos olhos e disse:
– Mãe, É AUTISMO, Boa Sorte!
Confesso que apenar de não ser nada empática, o choque da confirmação foi muito pior que o “boa sorte” no final. Foi uma sensação imediata de anestesia, por alguns instantes era como se não estivesse ali, ouvindo aquelas palavras.
E como a chuva que caía lá fora naquele momento, ao sair daquela clínica, a chuva continuou despencando dos meus olhos, não lembro como consegui dirigir e chegar ao meu destino, pois naquele trajeto morria uma mãe típica (ou normal, se essa nomenclatura existir) para dar lugar a uma mãe atípica com forças e capacidades até então desconhecidas, mas que surgiram com a necessidade de garantir, como uma manjedoura, a proteção, segurança e atendimento às necessidades do meu filho, em seu novo mundo, ainda mais Azul devido ao TEA.
A partilha dessa história está apenas começando, é a minha nova vida a partir do diagnóstico, no momento que escrevo o Emanuel acaba de completar 9 anos (13/12/2020), um menino saudável, que mesmo diante da pandemia nos mostrou sua capacidade de superação, aprendeu andar de bicicleta sem as rodinhas e a fazer letras cursivas.
Essas e outros momentos, bons, ótimos, não tão legais assim é os que vou trazer aqui semanalmente. A dor do diagnóstico foi muito grande sim, mas as alegrias das conquistas deixaram ela para trás ao longo desses anos.
Aproveite os comentários e deixe seu registro de como foi o impacto do diagnóstico da sua criança dentro do TEA. Espero que não tenha sido acompanhado de um “Boa Sorte” no final!
Acabei de receber o diagnóstico do meu filho de 14 anos, apesar dele já ter tido um acompanhamento com a psicóloga e com a fono aos 5 anos, todas descartaram um TEA, mas quando chego a fase da adolescência as características se intensificaram. Estou no processo de luto mesmo sabendo que com o diagnóstico muitas coisas se explicam.
Olá Viviane, realmente receber o diagnóstico, seja em qual momento for é muito impactante. Porém vocês estão no caminho e ainda há muito o que pode ser feito para dar o suporte necessário para ele.
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